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O sumiço do Boi Bumbá

Os Cilomáticos perdem de vista o essencial em espetáculo sobre um dos grandes símbolos nacionais

A Farra do Boi Bumbá - 21/10/2022

#AldeiaSescDeArtes


Os Ciclomáticos completam esse ano 26 anos de existência como uma das grandes companhias do circuito infantil nacional, com mais de dez espetáculos no portfólio, muitos desses rodando o Brasil ainda hoje. A companhia se caracteriza por grandes produções, espetáculos muito bem acabados e um apuro visual e técnico invejável. O canto também é marcante em suas produções, feito ao vivo, com profissionais muito bem qualificados no elenco.


Dentro do Aldeia Sesc de Artes, eles trouxeram para Goiânia o espetáculo A Farra do Boi Bumbá, que traz tudo pelo que a companhia é conhecida e aguardada. Figurinos bonitos e muito bem feitos; iluminação, cenários e adornos encantadores; o canto muito bem executado, atores em sintonia e à vontade em seus papéis e com as marcações. Tudo envolvido com aquele exagero colorido e brilhante que a gente entende que apela às crianças e tá tudo bem, faz parte do estilo, da vibe comercial – com a qual Os Ciclomáticos conseguem um considerável equilíbrio no tratamento dos temas e na escolha do repertório.


Neste A Farra do Boi Bumbá, o palco contem um espaço cênico especialmente demarcado para a encenação, que abarca diversas histórias que acompanham a narrativa principal sobre a origem do Boi Bumbá. Nesse recurso também se nota o cuidado e o esmero do trabalho de ator e do estudo teatral que Ribamar Ribeiro leva a cabo na direção diante d’Os Ciclomáticos. As reverências e as marcas para adentrar o espaço sagrado da representação estavam ali durante todo o espetáculo, e é muito dizer que esse detalhe não se perdia em meio ao frenesi que se assiste em A Farra do Boi Bumbá.


Infelizmente, nessa farra o boi ficou de fora. Surpreendentemente, o simbólico boi, mote do espetáculo, só aparece nos instantes finais, rodopia quiçá por um minuto, e é deixado ao chão para o agradecimento dos atores. Custa-nos acreditar. A alegria que o boi causa ao entrar em cena já seria indício suficiente de que ele era necessário ao restante do espetáculo. Está bem que sua aparição fosse preparada e adiada em certa medida, dada a intenção mesma de explicar sua origem. No entanto, quando surge a chegada do boi, ela é fruto de uma promessa dita às pressas e sem grande comoção. Ainda assim, ele chega chegando, afinal era por quem todos estavam esperando.


Tudo a que se assiste até aquele momento, no entanto, enquanto o boi não chega, enquanto não se fala dele, enquanto não há farra, soa como enrolação. Talvez não se possa dizer que está arrastado, dado o quão frenéticos são a encenação e os diálogos a todo instante. Não há pausa, não há respiro. O espetáculo segue do início ao fim no mesmo tom para cima, gritado, agitado, sem nuances, sem variação do ritmo... sem espaço para a emoção. A Farra do Boi Bumbá dos Ciclomáticos só não é o porre do boi bumbá porque o boi não está lá.

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