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Para quem tinha saudades

Atualizado: 23 de ago. de 2018

Cia Nu Escuro volta à cena em Goiânia com apresentação de O Cabra que Matou as Cabras .

Figurino e máscaras das cabras. Muitas cores e detalhes. Foto: Nu Escuro.

A Cia de Teatro Nu Escuro é um patrimônio goiano do Teatro. Assim como a Quasar era considerada na Dança. E como o teatro de grupo tem estruturas mais horizontais, onde importam mais as afinidades, construindo-se sua identidade a partir da diversidade de seus componentes, ele não encara a rotatividade de membros e o sentido de carreira e competição que está presente no universo da dança. Por estabelecer conexões internas mais sólidas, resiste mais às adversidades que, no geral, se impõem às artes no Brasil. Em que pese, ainda, a menor dependência do teatro da prática contínua dos artistas, à diferença da dança, ao menos um desses patrimônios ainda possuímos. Está meio sumido, de férias, ou de

licença-maternidade, mas vive.


Quem tem acompanhado a programação do Sesc Aldeia das Artes e o pessoal que caminha pelo Vaca Brava teve a oportunidade de ver uma das aparições do grupo, que se apresentou no parque na última quarta-feira com O Cabra que Matou as Cabras. Dos amigos que foram, todos já conheciam a peça. E um conhecido que não foi, se justificava: “hoje eu não vou, senão se completariam treze vezes que já assisti ao espetáculo”. É ou não é um patrimônio? O Cabra, como intimamente se referem à peça e para distingui-lo dos demais trabalhos da companhia, já tem quatorze anos de história, e histórias. Inspira-se na Farsa do Advogado Pathelin, clássico medieval francês e mescla histórias de cordel e esquetes circenses com

inúmeras referências da cultura popular.


A peça nos brinda com humor do início ao fim, sem considerações dramáticas nem aspirações políticas que não a sua própria existência. Lidando com puros personagens tipo, um mais corrupto e desonesto que o outro, contrasta com esses tempos de policiamento moral e de imposição do politicamente correto e, aos poucos, nos liberta para rir. Rir da mentira, da mesquinhez, da traição e da nossa decadência moral e cívica, dando a tudo isso o devido lugar do ridículo. Estar na rua contribui, mas é engraçado notar como nos sobressalta e até preocupa qualquer conotação sexual em cena, como se uma tensão negativa pudesse irromper de qualquer lado, acusadora e condenatória. O Cabra que Matou as Cabras não

nasceu, mas tornou-se, na atual conjuntura, um espetáculo atrevido e corajoso.


Não foi, a bem da verdade, uma boa apresentação do trabalho. O grupo conta com uma provisória substituição de Eliana Santos, quem teve filho recentemente, a cargo de Fernanda Pimenta, do espetáculo Quando se Abrem os Guarda Chuvas. Embora demonstre o tino para composição de personagem, como já notáramos em seu trabalho solo, faltou, inevitavelmente, a familiaridade e a apreensão do espírito da obra, que, nesse caso, grande parte do público tem de sobra. Lázaro Tuim parece haver confiado em demasia no piloto automático e também destoa. Adriana Brito e Abílio Carrascal estão bem, demonstrando a verve cômica e a rapidez no improviso que dão gostinho especial às apresentações da Nu Escuro. Izabela Nascente os acompanha e se destaca com as caras e bocas do advogado Pathelin em dia de espirituosa atuação. Houve problemas de ocasião, mas o trabalho é

sólido, não decepciona e nos cativa. Uma vez mais.

Rafael Freitas

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