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Cadê Romeu?

Espetáculo solo Eu, Romeu tem caráter biográfico, mas pouco conteúdo


Nesta edição do Aldeia Sesc de Artes, a organização da mostra buscou tornar a programação acessível não apenas com relação a preços, mas também aos lugares em que elas aconteciam. Nunca se viu um Aldeia do Sesc com palcos tão variados. Um desses palcos foi a Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, no Campus Samambaia. O hall do teatro da Emac recebeu a Adorável Cia, do Rio de Janeiro, que se apresentou com o solo Eu, Romeu.


O local não era dos melhores. Estudantes da Música ensaiavam por ali perto e professores e servidores conversavam no corredor acima. Por esforço da produção alguns desses percalços foram sendo remediados, mas, embora a sala tivesse porta, não deixou de chegar gente durante todo o espetáculo, que passavam por ali e queriam ver ou eram convidados a entrar. Tudo bem. Expectativas de detida atenção podem ter sido frustradas de início, mas o espetáculo tampouco exigiria tal detenção do espírito.


A bem da verdade, o ator Marcos Camelo muito se valeu do clima de descontração e abertura que se instaurou ali em uma plateia jovem, de estudantes universitários, que só crescia ao longo do espetáculo. O público foi grande aliado da apresentação. Havia interesse, boa vontade e curiosidade. Ponto para o Aldeia, um acerto na escolha do local. Aliás, grande parte do público seguiu dali para o Laboratório de Artes da Cena onde aconteceria outra apresentação na sequência, da Cia Nu Escuro com O Cabra que Matou as Cabras, cuja crítica você também lê aqui no GO Teatro.


Eu, Romeu foi apresentada como uma obra de Teatro Narrativo, o que nos gerou certa curiosidade. Não havia personagem, o ator contava de forma resumida a trama e os acontecimentos de Romeu e Julieta e fazia aqui e ali as falas e textos marcantes de um ou outro personagem da obra. No restante, era um contador de história, e por vezes, tentava provocar reflexões contemporâneas. O espaço era preenchido com movimentações com um barril, e por textos ritmados que perfazia com um pandeiro – do mais interessante que se viu ao começo do espetáculo, e sem a mesma força quando se repetiu uma e outra vez.


A peça carece de substância dramática. Não há muito empenho em contar a história de Romeu e Julieta e valorizar o caráter trágico de Shakespeare, nem tampouco de aprofundar as ligações que se fazem com a história do ator. O paralelo interessante do início entre a rivalidade de Montéquios e Capuletos na Verona renascentista com a realidade do jovem ator de Pedra Miranda, região espremida entre os morros do Jorge Turco e o Morro do Faz Quem Quer também não avança.


Não existe conflito em Eu, Romeu, não há mistério, não há indagação. A ponte que se faz entre Romeu e Julieta e a nossa desigualdade social e o racismo é frágil, não está no texto nem na encenação, apenas no discurso que se quer explicitar. Os elementos cênicos tampouco contribuem para levar o espetáculo para outro lugar, o barril, o chicote, o pandeiro vêm e voltam sem ganhar vida, sem um sentido claro, sem entrar em harmonia com o todo.

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