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Que passe o tempo!

Galpão volta a Goiânia com sarau que celebra a trajetória do grupo e a vida e força do Teatro


De Tempo Somos - 19/10/2022


Ainda dentro do Aldeia Sesc de Artes, o Grupo Galpão desembarcou em Goiânia para apresentar o espetáculo De Tempo Somos. O Teatro Basileu França, teatrão com mais de 300 lugares, palco enorme e profundo, poço para Orquestra, estava lotado para assistir ao sarau do grupo mineiro. Toda essa enormidade do espaço, que nos afastava um pouco dos artistas, até nos deixava cômodos na posição de quase reverência com que o público costuma receber o grupo nas suas vindas à cidade (e era necessário pra caber todo mundo). Os artistas, no entanto, segundo os próprios, sentiram não ter a nós mais perto do palco.


Viria dessa distância uma certa timidez dos ânimos por aí no início do espetáculo? Talvez do meu ânimo eu esteja falando. Ou seria a desconfiança, após a abertura, de que talvez as coisas ficassem mesmo distantes para aqueles que não reconheceriam as referências e as músicas que compõem o sarau? Me vi desejando que houvesse “cena”, que além das músicas, dos rostos familiares e cativos, eu pudesse também ter daquele encanto cênico, burilado em fogo lento, amassado a mão, prazeroso e afável como pão de queijo. Esse gostinho que outros espetáculos do grupo já deixaram em mim.


Falo de uma perspectiva um tanto pessoal, pois me parece que na soma de tudo: o quanto conhecemos do trabalho do grupo, com as expectativas que levamos a partir disso e até o quanto reconhecemos no trabalho tendo visto ou não as outras obras do Galpão, a experiência se constrói de forma individualizada. Eu mesmo assisti ao espetáculo ao lado de um fã de carteirinha, que cantava baixinho as músicas e às vezes me soprava a qual espetáculo elas pertenciam, ou me saía com uma informação curiosa sobre um ator, a cena ou o grupo.


Mas tudo não seria teatro, bom teatro e bom Galpão, se, mesmo por caminhos diversos, não chegássemos todos àquele estado de comunhão e, nesse caso, de festa. Aliás, nesse como em outro: o caso do espetáculo Nós, que se apresentou em Goiânia em 2018 e cuja crítica você também lê Aqui no Go Teatro. Assim, os receios iniciais se perdem ao longo do sarau, que vai te embalando aos poucos, em diferentes ritmos e toadas, dosando os ingredientes da história do Galpão que organizam uma bela e comovente celebração da magia do Teatro.



De Tempo Somos é de 2014. O espetáculo celebra a trajetória do Galpão e surge do desejo de festejar o encontro da música com o teatro, que é tão importante para o grupo. Além de músicas que integram espetáculos do repertório, há também músicas inéditas. Mas ali tem de tudo, literatura, poesia, textos de Calderón de la Barca, Charles Baudelaire, José Saramago, entro outros, e para minha alegria tem “cena” também. Não que tudo já não fosse cênico, mas a quem não dá prazer uma marcação singela e bem humorada?


Na festa, ainda encontrei lugar para me emocionar com alguns breves relatos, como os dos meninos de rua que retiravam de suas latinhas moedas para depositar no chapéu dos artistas. Ou da história de dona Divina, que após participar de uma oficina com o Galpão, deixou o trabalho de doméstica, cursou pedagogia e hoje é contadora de histórias. Obrigado Galpão pela injeção de ânimo e pela celebração do Teatro e da vida nesse momento tão estafante.



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